A cirurgia robótica permite que os médicos realizem cirurgias por meio de cirurgiões-robôs que garantem mais precisão, segurança e conforto durante a operação.
A adoção de novas tecnologias na área da saúde possibilitou que cada vez mais procedimentos menos invasivos sejam realizados, como é o caso da cirurgia robótica.
Menos invasiva e com potencial para uma recuperação mais rápida, essa modalidade está em crescimento no Brasil.
É claro que desde o seu surgimento, a medicina conta com ferramentas e dispositivos que facilitam a rotina dos profissionais e contribuem para a saúde dos pacientes.
A diferença é que nos últimos anos essas inovações têm surgido com mais rapidez, promovendo verdadeiras transformações no setor.
Uma cirurgia minimamente invasiva é realizada por meio de pequenas incisões, sem a abertura tradicional da cavidade abdominal. Os órgãos internos são visualizados por meio de uma microcâmera e a cirurgia é realizada utilizando-se pinças especiais.
Na cirurgia robótica os médicos podem realizar muitos tipos de procedimentos complexos com mais precisão, flexibilidade e controle, porque estão sendo assistidos por um sistema robótico que aumenta suas capacidades e os ajuda a superar muitas das limitações dos procedimentos cirúrgicos.
O que é e como funciona a cirurgia robótica?
A cirurgia robótica é uma operação assistida por robôs. É uma técnica minimamente invasiva, em que todas as manobras são conduzidas pelo cirurgião e executadas por meio do robô, com controle de movimentos feito por meio de joysticks.
Vista como uma evolução da laparoscopia, também apresenta vantagens em relação à cirurgia aberta, sendo menos invasiva, tendo possivelmente menos sangramentos, recuperação mais rápida e menor tempo de internação.
Em outras palavras, ela consiste em uma cirurgia por acesso laparoscópico (pequenos orifícios pelos quais são introduzidas a câmera e pinças cirúrgicas) na qual os movimentos dos instrumentos são realizados por braços robóticos.
Diferenças entre cirurgia robótica e operações laparoscópicas
A cirurgia laparoscópica é um tipo de cirurgia onde são realizadas várias incisões de 0,5 cm a 1,0 cm para realizar o procedimento. Cada incisão é chamada de “portal”.
Em cada portal, um instrumento tubular conhecido como trocarte é inserido.
Durante o procedimento, instrumentos especializados são passados através dos trocartes, e uma câmera especial chamada laparoscópio é utilizada para que o cirurgião “enxergue” o interior da cavidade abdominal.
Na cirurgia robótica o médico cirurgião fica dentro da sala cirúrgica e comanda o robô, que reproduz os movimentos das mãos do cirurgião, garantindo uma ampla liberdade e precisão de movimento.
Além disso, a câmera, que permite visão 3D e ampliada dos órgãos a serem operados, também é controlada pelo cirurgião, o que garante um posicionamento sempre adequado.
É importante entender que o robô não realiza a cirurgia, e sim o cirurgião por meio do console robótico, permitindo realizar movimentos cirúrgicos mais controlados e precisos.
Quando a cirurgia robótica é indicada?
Ao contrário da cirurgia aberta, a cirurgia robótica permite que os médicos operem com menos danos ao corpo, levando a menos dor, menos complicações e uma permanência hospitalar geral mais curta para os pacientes.
A cirurgia robótica é indicada principalmente para os procedimentos cirúrgicos que exigem atenção a detalhes. Por isso, é recomendada para as cirurgias mais complexas, embora possa ser realizada também naquelas mais simples.
A cirurgia robótica tem diferentes aplicações em diversas especialidades, ela pode ser utilizada em cirurgias de: hepatectomia, pancreatectomia, herniorrafia, colecistectomia, entre outras.
Vantagens da cirurgia robótica
Para os pacientes
- Redução de complicações: a cirurgia robótica faz pequenas incisões, o que reduz a dor, diminui o risco de sangramentos e possui uma menor taxa de infecção;
- Diminuição do tempo de internação e recuperação: o trauma cirúrgico é atenuado e, com isso, o paciente se recupera de forma mais rápida;
- Melhores resultados estéticos: as incisões na cirurgia robótica são menores, o que traz um benefício estético maior que procedimentos convencionais;
- Segurança: a plataforma possui componentes que foram projetados para reduzir o risco do procedimento, além de usar programa de inteligência artificial que filtra tremores e movimentos indesejados das mãos do cirurgião.
Para a equipe médica
- Aumento da precisão: a cirurgia robótica é muito mais precisa do que os procedimentos convencionais e laparoscópicos;
- Equipamento ergonômico: a cirurgia robótica proporciona melhor ergonomia ao cirurgião, já que ele opera sentado e com os braços apoiados, otimizando sua performance, principalmente em procedimentos longos e trabalhosos;
- Facilidade de acesso: a articulação dos instrumentais, bem como o seu design, permite ao cirurgião um acesso mais facilitado ao local que precisa ser operado;
- Precisão e amplitude de movimentos: por causa da articulação do instrumental e das suas múltiplas funções, o cirurgião consegue realizar movimentos mais amplos, firmes e precisos;
- Melhor campo de visão: o cirurgião tem visão 3D de alta qualidade, com imagem estável e direcionamento da câmera controlado por ele.
A cirurgia robótica apresenta riscos?
A cirurgia robótica é, atualmente, o que há de mais moderno em procedimentos minimamente invasivos.
Isso porque ela alia tecnologias como visão aumentada em 3D, filtro de possíveis tremores do cirurgião e mecanismos que ampliam a precisão do procedimento.
Por se tratar de uma técnica minimamente invasiva, ou seja, a cirurgia realizada por poucos orifícios de até 1 cm, ela é bastante segura, com menos sangramento e menos complicações, como dores e infecções cirúrgicas.
Entretanto, a cirurgia robótica compartilha os mesmos riscos da cirurgia aberta e laparoscópica, com os mesmos problemas potenciais de infecção, anestesia ou relacionados a qualquer tipo de cirurgia.
No entanto, há um risco adicional exclusivo do sistema com robô, o risco adicional de falha mecânica, como a falha em componentes do sistema robótico, com mau funcionamento de câmera, lentes, instrumentos e fonte de energia.
Cirurgia robótica no Brasil
A primeira cirurgia robótica realizada no Brasil aconteceu em 2008 no Hospital Israelita Albert Einstein. Após 14 anos, o número de procedimentos vem crescendo gradativamente e se expandindo para diversas especialidades cirúrgicas.
O paciente de 70 anos foi submetido à cirurgia de prostatectomia radical, popularmente conhecida como cirurgia robótica de próstata. O procedimento contou com uma equipe multiprofissional com mais de 20 pessoas.
Segundo dados da H. Strattner, única empresa que comercializa o equipamento no Brasil, já foram realizadas mais de 30 mil cirurgias robóticas no país, contabilizando todas as especialidades médicas.
Os procedimentos são realizados, principalmente, na região Sudeste.
O acesso à cirurgia robótica no Brasil deve ser facilitado nos próximos anos. Atualmente, o procedimento não está disponível pelo SUS e também não faz parte do rol de procedimentos de cobertura obrigatória da grande maioria das operadoras de saúde.
O avanço de tecnologias na medicina
A tecnologia tem influência em todos os processos da medicina e é responsável por melhorar o tratamento, o diagnóstico e a prevenção de diversas doenças.
Além disso, ela colabora ao desenvolver soluções mais assertivas para cada problema, oferecendo também mais conforto e segurança ao paciente.
Por meio de equipamentos inovadores, permite-se identificar com facilidade possíveis agentes patológicos. Dessa forma, é possível iniciar o tratamento logo no primeiro estágio da doença, utilizando técnicas menos invasivas.
Da mesma forma, os avanços tecnológicos na medicina também focam na otimização dos processos de saúde, como por exemplo, softwares médicos, Telemedicina e o uso do prontuário eletrônico.
Essas tecnologias otimizam as operações de uma clínica médica ao mesmo tempo que trazem mais conforto e segurança aos pacientes.
Por exemplo, o software médico foi uma inovação tecnológica fundamental para os profissionais de saúde, principalmente para aqueles que trabalham em clínicas e consultórios médicos.
Também conhecido como sistema médico, sua principal função é auxiliar os médicos em suas rotinas, por meio de funcionalidades como:
- Prontuário eletrônico;
- Agenda médica online;
- Agendamento online;
- Teleconsulta;
- Prescrição eletrônica, entre outros.
Especialidades que mais se beneficiam da cirurgia robótica
Urologia
A urologia é uma das principais especialidades que utilizam a cirurgia robótica. A técnica abre diversas oportunidades para o tratamento do câncer de próstata, de doenças nos rins, bexiga e todo o trato urinário de forma minimamente invasiva.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer, são registrados mais de 65 mil novos casos de câncer de próstata, por ano, no Brasil.
A prostatectomia radical, o tratamento para retirar o câncer da próstata, é um dos procedimentos em que mais se utiliza robô, contribuindo para que o cirurgião tenha uma melhor visibilidade em locais de difícil acesso e a preservação de estruturas fundamentais, que têm grande impacto no pós-operatório.
Ginecologia
A ginecologia também foi uma das especialidades beneficiadas pela cirurgia robótica. Nessa área é possível tratar diversos tipos de cânceres ginecológicos, miomas e, especialmente, a endometriose.
Todas as cirurgias ginecológicas laparoscópicas podem ser realizadas tanto por cirurgia convencional quanto por cirurgia robótica, mas o sistema robótico pode ser especialmente indicado para a realização de intervenções cirúrgicas mais complexas para garantir a máxima segurança e precisão.
- Tratamento do câncer cervical;
- Tratamento de câncer de ovário;
- Tratamento de câncer endometrial;
- Histerectomia (cirurgia para remover o útero);
- Miomectomia (cirurgia para remover miomas uterinos);
- Tratamento da endometriose profunda;
- Incontinência urinária.
Além disso, a cirurgia robótica consegue identificar mais focos de endometriose do que a laparoscopia, devido a sua visão 3D.
Digestivas
A cirurgia no aparelho digestivo é considerada um procedimento de extrema complexidade. Afinal, há necessidade de acesso à cavidade abdominal , onde estão presentes órgãos e vasos nobres.
Com a cirurgia robótica, é possível separar os tecidos, selar os vasos com a pinça seladora e, ao mesmo tempo, utilizar a pinça articulada, o que facilita muito o procedimento.
Por isso, a cirurgia robótica tem grande potencial em cirurgias do esôfago, cólon, pâncreas e estômago, ao dissecar e selar importantes vasos de forma limpa e rápida.
Ela também é vantajosa por causa do seu menor grau de invasividade, oferecendo uma cirurgia mais segura e um pós-operatório mais confortável para o paciente.
No caso da sua aplicação no aparelho digestivo, a cirurgia robótica pode ser realizada em quadros de:
- refluxo gastroesofágico complexo;
- cirurgias complexas hepatobileopancreáticas: do fígado, pâncreas e das vias biliares;
- hérnias abdominais;
- cirurgia bariátrica;
- reintervenção na transição esôfago-gástrica;
- cirurgia oncológicas.
Aliás, é indicada principalmente para quadros de câncer. Podem ser tratados os cânceres que se desenvolvem em diferentes órgãos do aparelho digestivo, como reto, cólon, esôfago, pâncreas, fígado e estômago.
Tumores e câncer
A cirurgia robótica se mostrou uma excelente opção de tratamento cirúrgico para alguns tipos de câncer com vantagens em relação às cirurgias convencionais, sejam elas abertas (laparotomia) ou por videolaparoscopia.
Geralmente esse tipo de operação é realizada no tratamento do câncer de pulmão, de próstata e de alguns outros tumores do trato urinário, bem como em alguns cânceres ginecológicos e em casos de câncer de orofaringe.
Um dos principais benefícios da cirurgia robótica está no pós-operatório.
O paciente que se submete a esse tipo de procedimento tem menos dor, menos tempo de internação e, portanto, uma recuperação mais rápida. A cirurgia robótica também é menos propícia a complicações e diminui risco de sangramentos.
Patologias da tireóide e de laringe
A cirurgia robótica pode ser utilizada no tratamento de diversos tipos de câncer de cabeça e pescoço, entre eles câncer de laringe, câncer de faringe e câncer de tireoide.
Esse tipo de cirurgia também pode ser realizada quando há necessidade de fazer esvaziamento cervical, procedimento para remover linfonodos (gânglios linfáticos) e vasos linfáticos que foram atingidos por um câncer, principalmente os que acometem as glândulas salivares, tireóide e garganta.
A cirurgia é indicada, principalmente, quando há suspeita de malignidade, e servirá para remoção do local afetado pela doença.
Ela também pode ser utilizada no diagnóstico, para a realização de biópsia – possibilitando uma melhor assertividade para identificação do tumor, desde sua classificação como benigno ou maligno até o seu estadiamento, ou seja, o grau de crescimento da doença.
Tratamento de hérnias da parede abdominal
A cirurgia robótica de hérnia pode ser usada para as diferentes manifestações da condição, como:
- Hérnia inguinal: na qual o abaulamento ocorre na região da virilha;
- Hérnia umbilical: que acomete crianças e adultos, e nas quais a saliência manifesta-se próximo ou no umbigo;
- Hérnia epigástrica: na qual o abaulamento ocorre na linha alba, entre tórax e umbigo, acometendo mais frequentemente homens entre 20 e 50 anos;
- Hérnia incisional: a saliência ocorre em cicatrizes de cirurgias prévias, consistindo em quadros mais complexos de serem revertidos.
Apesar de a técnica robótica poder ser usada no tratamento de todos os tipos de hérnia abdominal, é fundamental uma avaliação especializada para considerar as particularidades do caso.
Outra vantagem da herniorrafia robótica é o resultado estético que ela proporciona.
Como o corte é menor, então, o impacto visual da cirurgia é pequeno, reduzindo o tamanho das cicatrizes e melhorando a aparência do local operado, sem prejudicar a autoestima do paciente.
Como é o mercado de trabalho da robótica?
A cirurgia robótica é uma área com grande potencial de crescimento nos próximos anos, já que ela une a transformação digital e o avanço da tecnologia aos procedimentos cirúrgicos, trazendo diversos benefícios tanto para médicos quanto para pacientes.
A pesquisa Cirurgia Robótica Pediátrica na América do Sul mostra que, no Brasil, 75% dos robôs cirúrgicos estão localizados nas duas principais cidades: São Paulo e Rio de Janeiro.
A pesquisa também demonstra a potencialidade de mercado para médicos se especializarem na área de cirurgia robótica, com poucos profissionais qualificados na área.
Conforme dados de 2017 da empresa Intuitive, no Brasil um total de 400 cirurgiões são credenciados pela empresa em seu treinamento de cirurgia robótica, sendo a maioria dos treinamentos realizados no exterior.
Para realizar cirurgias robóticas é preciso se especializar?
A resolução do CFM nº 2.311/2022 define a cirurgia robótica como modalidade minimamente invasiva de tratamento cirúrgico, que pode ser realizada de forma aberta ou combinada.
As cirurgias deverão ser realizadas em hospitais que tenham Serviços Especializados de Cirurgia Robótica e devem atender a todas as normas de segurança previstas pela Anvisa e pelo CFM.
O procedimento só poderá ser realizado por médico que tenha Registro de Qualificação de Especialista (RQE) registrado no CFM na área cirúrgica relacionada ao procedimento.
Além disso, o cirurgião deverá ter passado por treinamento específico em cirurgia robótica durante a residência médica ou ter realizado a capacitação específica prevista na Resolução do CFM nº 2.311/22.
Cirurgia robótica e a telecirurgia
Realizar uma cirurgia com o paciente em um local e o médico em outro já é uma realidade com o uso dos robôs nos procedimentos cirúrgicos.
As máquinas já permitem que esse procedimento seja feito, no entanto, há limitações por conta do acesso à tecnologia. Procedimentos nessas circunstâncias já foram realizados, mas apenas em fase de teste e com custos altíssimos.
O que ocorre é que ainda não há uma conexão que seja realmente segura para a operação ser realizada a distância. Algo que pode começar a mudar com a chegada da conexão 5G.
Com essa mudança, a expectativa é que os pacientes não precisem sofrer mais pela longa espera para realizar cirurgias devido a falta de especialistas em suas regiões.
Conclusão
A cirurgia robótica reúne uma série de vantagens ao paciente, como a recuperação mais rápida que permite um retorno antecipado às atividades cotidianas.
Há menos risco de infecções e sangramentos, além de cortes e cicatrizes mínimas.
Isso é possível porque as pinças articuladas do robô, controladas pelo cirurgião dentro da sala de operações, são mais precisas e delicadas, alcançando áreas de difícil acesso às mãos.
