A medicina baseada em evidências é uma prática que visa a tomada de decisões baseada em evidências científicas, como pesquisas, estudos, dados, entre outras informações validadas pela ciência.
Você sabe como a medicina baseada em evidências funciona na prática?
Cada vez mais as inovações tecnológicas se fazem presente na área da saúde. É por conta dessas inovações que hoje temos uma variedade de ferramentas que contribuem com uma nova forma de se fazer medicina.
Com a possibilidade de diagnosticar e avaliar grandes números de dados, uma nova vertente da área surge: a medicina baseada em evidências.
Essa prática pretende aumentar a eficiência e qualidade dos serviços de saúde prestados à população e diminuir os custos operacionais dos processos de prevenção, tratamento e reabilitação.
Entretanto, por mais que a discussão sobre ela aumente gradualmente dentro das faculdades de Medicina, pouco é realmente discutido e ensinado sobre ela no nosso país.
Neste artigo falaremos sobre:
O que é a Medicina Baseada em Evidências (MBE)?
A Medicina Baseada em Evidências (MBE) é uma prática clínica que visa a tomada de decisões a partir de evidências científicas atualizadas e testadas pelo método científico.
Essa atividade é eficaz não só para o atendimento clínico, como também para as análises de laboratórios.
Sendo assim, ela é positiva do ponto de vista clínico, laboratorial e do paciente, que obtém um atendimento mais personalizado e assertivo.
Em resumo, a medicina baseada em evidências é definida pela sigla PPR: Problema – Preditor – Resultado.
- Problema: aquilo que o paciente apresenta para você, sua queixa, seu sinal, seu sintoma;
- Preditor: pode ser um fator de risco ou uma intervenção frente ao problema apresentado;
- Resultado: refere-se àquilo que pode ser alcançado em decorrência do preditor, ou seja, qual a consequência da exposição do paciente àquele determinado fator?
A saúde baseada em evidências constituiu um modelo para a prática clínica, substituindo aquele praticado anteriormente baseado na intuição, experiência clínica individual não sistematizada e justificativa fisiopatológica, sem necessária comprovação científica.
Como resultado, a utilização da SBE também reduz os riscos de exposição do paciente a intervenções desnecessárias, na maioria das vezes de custo elevado e com potencial iatrogênico.
Quem criou a medicina baseada em evidências?
Em 1992, o termo evidence-based medicine foi criado por um grupo de pesquisadores da Universidade McMaster no Canadá. Esse grupo propunha a inclusão explícita de achados de pesquisas clínicas no processo de tomada de decisão médica.
O objetivo desses pesquisadores era conectar a medicina e a ciência. Hoje, com o amplo acesso a tecnologias e internet, ficou ainda mais fácil encontrar, criticar e aplicar informações científicas.
Com algumas técnicas simples, é possível buscar o que se precisa em bases de dados, e encontrar de forma rápida e prática artigos de boa qualidade sobre o problema encontrado.
Com métodos de avaliação crítica, é possível refinar ainda mais a seleção de artigos para descartar aqueles tendenciosos ou de má qualidade, e usar apenas os de boa qualidade.
É possível ter uma prática clínica baseada só em evidência?
A medicina baseada em evidências não busca somente orientar as práticas clínicas por meio de estudos científicos, limitando esses profissionais em sua vivência médica.
Ao contrário, a medicina baseada em evidências visa contribuir para a qualidade do atendimento clínico por meio de ações de formação continuada desses profissionais.
Sendo assim, bons profissionais de saúde utilizam tanto sua vivência clínica quanto as melhores evidências científicas disponíveis.
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Qual a importância da medicina baseada em evidências?
A área da saúde não é uma ciência exata, sendo assim, o tratamento utilizado hoje pode não ser o melhor e o mais indicado amanhã. Afinal, a medicina está em constante evolução e descobertas aparecem a todo momento.
Por causa desse dinamismo, há a necessidade de o médico e demais profissionais de saúde se manterem atualizados com o que há de novidade em termos de evidências científicas.
Além disso, os avanços tecnológicos possibilitam um aprimoramento contínuo dos métodos analíticos, além da descoberta de biomarcadores de maior acurácia diagnóstica. Ou seja, novos tratamentos e medicamentos são criados e melhorados a cada dia.
As pesquisas científicas servem para qualificar e quantificar a eficácia desses tratamentos e indicar se devem ser usados ou não com base em seus resultados. Isso evita que sejam adotadas práticas de saúde que não são eficazes para o paciente.
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Princípios da medicina baseada em evidências
A prática da medicina baseada em evidências se dá a partir de perguntas que seguem os componentes do acrônimo PICO, que significa:
- P – Paciente, População ou Problema
- I – Intervenção, Indicação ou Interesse
- C – Intervenção de comparação, procedimento padrão ou não intervenção
- O – Desfecho, resultado esperado ou efetividade (“O” vem do inglês outcome)
A partir da pergunta o médico deve utilizar seus conhecimentos básicos de metodologia científica para procurar diversos estudos clínicos sobre o problema identificado.
Uma vez encontrada a informação, é necessário avaliá-la criticamente para determinar sua validade, sua importância e sua aplicabilidade a um paciente individual ou ao cenário clínico.
Sendo assim, a medicina baseada em evidências requer do médico novas habilidades, muitas das quais não foram ensinadas na faculdade e outras que precisam ser mais desenvolvidas.
A partir dessa conscientização por parte dos médicos, podemos extrair três princípios básicos da medicina baseada em evidências. São eles:
- O profissional de saúde deve utilizar informações provenientes de estudos sistemáticos, quando possível, reprodutíveis e sem tendenciosidade, de forma a aumentar a confiança no prognóstico, na eficácia da terapia e na utilidade dos testes diagnósticos;
- A compreensão da fisiopatologia é necessária, mas insuficiente para a prática clínica;
- A compreensão de determinadas regras de evidência é necessária para avaliar e aplicar de forma efetiva a literatura médica.
Os desafios e barreiras da prática baseada em evidências
Uma das principais barreiras para a implementação da medicina baseada em evidências é, principalmente, a divergência de opiniões dos profissionais de saúde em relação a ela.
Se de um lado temos profissionais que defendem que a MBE garante maior qualidade, acessibilidade e menor custo, de outro, temos profissionais que acreditam que muitas das evidências ainda são fracas e que possuem muitas diretrizes.
Veja a seguir algumas barreiras da MBE apontadas pelos médicos e demais profissionais da área.
1. Dificuldade de acesso aos estudos científicos
No passado, o grande desafio dos médicos era ter acesso a um bom volume de estudos, pesquisas e demais fontes de informações para orientar suas condutas de maneira confiável.
Atualmente, o cenário é inverso. Na era digital, o acesso às análises e às conclusões de outros especialistas é amplo e garante uma tomada mais assertiva de decisões.
Entretanto, com um volume tão grande de informações é difícil identificar quais são verdadeiras e quais são equivocadas.
2. Falta de acesso à pesquisa atualizada
Uma das principais barreiras encontradas é a dificuldade em acessar os estudos mais atuais da área. Vale ressaltar que há a necessidade da compra para grande parte dos artigos científicos.
Além disso, a maioria deles está em inglês, o que pode ser um obstáculo para quem não domina o idioma.
3. Ausência de tempo para busca de estudos científicos e recursos limitados para uso das evidências
Normalmente, haverá inúmeros estudos científicos e o médico não será capaz de analisar todos antes de adotar um caminho a seguir.
Além disso, deve-se considerar as limitações do ambiente onde esse médico está inserido e nem sempre será possível utilizar os mesmos recursos dos encontrados nas pesquisas.
Quais são as vantagens do uso da prática baseada em evidências?
A principal vantagem do uso da medicina baseada em evidências é que ela pode reduzir o custo dos tratamentos, uma vez que as decisões baseadas em dados são mais assertivas e geram menos ações desnecessárias ou equivocadas nos tratamentos.
Além disso, também podemos destacar mais 9 principais vantagens, que são:
- Dúvidas sanadas com mais agilidade e assertividade;
- Tratamentos realizados com base científica;
- Diagnóstico mais certeiro;
- Redução no número de erros médicos;
- Prevenção de problemas e intercorrências durante tratamentos;
- Realização de exames relevantes para a análise da saúde dos pacientes;
- Possibilidade de lidar com dados epidemiológicos fiéis à realidade;
- Maiores chances de cura e remissão de doenças.
Como praticar a MBE?
Para praticar a MBE você precisa ser capaz de encontrar evidências provenientes de estudos científicos que são relevantes para seus pacientes.
É necessário entender esses estudos e ser capaz de avaliá-los, para, finalmente, aplicar esses resultados ao tomar decisões sobre seu paciente.
Isso significa poder integrar as evidências com as necessidades pessoais de seus pacientes, seus valores, crenças e desejos.
Uma boa forma de começar é reservar horas na sua agenda online para ler os estudos e fazer anotações sobre as informações que achar relevante. Em um próximo horário de estudos que você tiver reservado, comece a fazer conexões entre o que estudou e os casos que aparecem em sua clínica.
Pode ser desafiador no começo, mas assim como a medicina, quanto mais praticar, mais fácil será fazer as conexões entre o que estuda e o que acontece em sua prática clínica. Veja mais dicas a seguir:
1. Formule uma pergunta que pode ser respondida
Você deve estudar as metodologias de formulação de perguntas clínicas, que geralmente possuem componentes representados por acrônimos. Por exemplo, o PICO, o SPICE e o SPIDER.
As perguntas podem se relacionar aos fatores de risco, precisão dos testes diagnósticos, efeitos do tratamento e aos prognósticos. A pergunta deve ser a mais clara e objetiva possível, delimitada ao tema e/ou contexto em que se deseja obter respostas.
Dessa forma, o tempo gasto na revisão das respostas ou o risco de obter uma que não seja relevante ao paciente e seu respectivo quadro médico-hospitalar são reduzidos.
Formular a pergunta de forma correta pode ser ainda mais importante do que acertar no diagnóstico resposta.
2. Procure por estudos científicos que melhor respondam essa pergunta
Partindo da pergunta, o próximo passo é saber qual é o desenho de estudo que melhor responde à questão clínica.
A busca por evidências não é uma etapa complexa, uma vez que são requisitadas pesquisas e análises de artigos publicados, com relatos de casos e estudos observacionais, em que um grupo é analisado para reunir maiores informações sobre uma determinada patologia ou medicamento.
3. Acesse as principais bases de dados da área da saúde
Para implementar a medicina baseada em evidências, você precisa garantir o acesso à bases de dados médicos confiáveis, tais como a Pubmed, Medline, Scielo, Cochrane Library, entre outros.
É fundamental levar em consideração em qual nível e grau de evidências estamos embasando nossa prática clínica no momento.
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4. Analise criticamente a validade interna, relevância e aplicabilidade da evidência
Nem todos os estudos científicos têm valor igual. Os diferentes tipos de estudos têm força e legitimidade científicas diferentes.
Além disso, para um dado tipo de estudo específico, os exemplos individuais geralmente variam em termos de qualidade da metodologia, validade interna e generalização dos resultados e aplicabilidade a um determinado paciente (validade externa).
Cabe ressaltar que a hierarquia dos níveis de evidências apresentada acima é válida para estudos sobre tratamento e prevenção.
Portanto, se a questão formulada for relacionada a fatores de risco, prevalência de uma doença ou sensibilidade e especificidade de um teste diagnóstico, a ordem dos níveis de evidências apresentados será modificada em virtude da questão clínica.
Em outras palavras, a hierarquia dos níveis de evidências não é estática e, sim, dinâmica conforme a pergunta elaborada.
O uso de tecnologias para maior assertividade ao aplicar a MBE
A medicina vive um período de constantes mudanças. O que antes demorava um bom tempo para acontecer e se desenvolver, hoje, ocorre de forma muito mais rápida. Cada vez mais novas tecnologias estão sendo empregadas na área da saúde.
Por exemplo, a Saúde 4.0 vai muito além de equipamentos e aplicativos modernos. Ela possui forte característica preventiva, focando no dia a dia das pessoas, com suporte de Inteligência Artificial, Big Data e Internet das Coisas.
Com todo esse avanço tecnológico, a medicina começa a deixar de focar apenas em tratamentos reativos e episódicos, para um modelo conectado, com cuidados preventivos, individualizados e contínuos.
Isso permite que a cada dia essas novas tecnologias sejam usadas em tratamentos e diagnóstico de doenças. Pois, essas tecnologias permitem o monitoramento e análise constante dos dados desses pacientes.
É importante que o médico, durante o atendimento, avalie esse conjunto de informações, tanto sobre o que está sendo prescrito, como a respeito das condições clínicas e pesquisas científicas sobre esses novos tratamentos.
O objetivo é que o paciente volte para casa, siga com o tratamento, ciente não só da finalidade daquela medicação, como também dos efeitos colaterais, das interações com outras medicações, com fatores étnicos, comorbidades e demais fatores.
Como otimizar a gestão dos seus atendimentos médicos?
Novos tratamentos, técnicas de diagnóstico e descobertas no campo da saúde possibilitam de forma constante uma melhor qualidade de vida para as pessoas. Porém, os avanços na medicina não se restringem apenas às descobertas científicas.
A tecnologia também vem transformando cada vez mais a gestão da saúde, por meio de programas hospitalares e softwares médicos para clínicas e consultórios.
Procedimentos manuais, burocráticos e lentos não precisam mais fazer parte do cotidiano dos profissionais envolvidos no estabelecimento e nem das pessoas que vão usufruir de seus serviços.
Atualmente, o uso de softwares de gestão é fundamental para garantir um atendimento eficiente na sua clínica.
Além de darem mais segurança às informações, eles otimizam dados, melhoram a comunicação, diminuem erros e aumentam a produtividade.
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Conclusão
Ser um bom profissional implica utilizar tanto a experiência pessoal quanto as melhores evidências científicas disponíveis.
As demandas atuais de saúde requerem do profissional capacidades e competências para se adaptar às novas mudanças do ponto de vista das tecnologias, das evidências científicas, mas sobretudo no que diz respeito às demandas sociais da população.
A medicina baseada em evidências visa assegurar que, quando as decisões são tomadas, elas sejam tomadas com base nas evidências científicas mais atualizadas, sólidas e confiáveis.
Desse modo, o paciente terá acesso ao melhor tratamento para a sua enfermidade.